Um abraço acolhedor, uma conversa amiga e palavras de esperança. Atitudes delicadas como estas, às vezes, são tudo que a mulher vítima de violência doméstica precisa. Há 15 anos, o Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame) – vinculado à Secretaria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa de Roraima (SEM/ALE-RR) – acolhe, orienta e combate o crime tipificado por meio da Lei Maria da Penha.
“Quando nossas assistidas nos procuram elas estão extremamente vulneráveis e o tratamento é o mais humanizado possível: ouvimos, procuramos entender e nos colocar no lugar da pessoa agredida e, a partir desse acolhimento, orientamos, com intuito de estimular essas mulheres a terem confiança para saírem dos relacionamentos abusivos”, explicou a secretária Especial da Mulher, deputada Joilma Teodora (Podemos).
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), ressaltou que o Poder Legislativo trabalha continuamente pelo fim da violência de gênero, com a aprovação de projetos de lei, audiências públicas, campanhas publicitárias e ações da SEM.
“O Chame é um programa da Casa Legislativa com demanda expressiva, atendida por uma equipe multiprofissional extremamente capacitada. A Secretaria Especial da Mulher desenvolve um trabalho de excelência que garante não apenas um espaço de escuta para a vítima, mas também uma rede de suporte emocional, jurídico e de bem-estar”, enfatizou. Sampaio.
Inaugurado em 18 de agosto de 2009, o Chame foi pioneiro em ações de combate à violência doméstica em Roraima. Na época, a então deputada Marília Pinto foi a responsável por implantar a unidade na capital, em um período em que a lei estava começando a ser trabalhada no país e ainda não existiam políticas públicas locais voltadas para a temática.
“A Lei Maria da Penha era muito clara quando dizia que o combate à violência contra a mulher é uma responsabilidade da família, da sociedade e do Estado. Então, enquanto médica e presidente da Comissão de Defesa de Direitos da Mulher da ALE, vi a oportunidade de fazer algo para mudar esta realidade”, destacou.
Marília citou que a violência doméstica é algo cultural e que ocorre porque muitos consideram a mulher inferior ao homem. Entretanto, com as leis e políticas públicas de proteção, a mulher precisa entender que existe uma rede de acolhimento e que é possível se libertar.
“A lei reafirma o direito das mulheres a uma vida sem violência e garante o aperfeiçoamento moral, intelectual e social delas, além de preservar o direito à saúde física e mental”, acrescentou.
Atualmente, o Chame dispõe de vários projetos, como o Grupo Terapêutico Lótus, e cursos de defesa pessoal para as mulheres ao longo do ano, além do Centro Reflexivo Reconstruir, voltado para ressocialização do agressor, seja ele enviado pela Justiça ou que tenha buscado o atendimento por conta própria.
Muito além do acolhimento
No ano passado, o Centro Humanitário iniciou a campanha “Mechas da Esperança”, que consiste em confeccionar perucas para mulheres acometidas pelo câncer. A iniciativa ocorre em parceria com a Liga Roraimense de Combate ao Câncer (LRCC).
Todos os atendimentos são feitos por uma equipe multidisciplinar composta de psicólogas e assistentes sociais, todas mulheres. Caso a mulher queira seguir com alguma ação judicial contra o agressor, o Chame atua como intermediário e orientador jurídico.
Conforme a secretária da SEM, deputada Joilma Teodora, o Chame tem feito a diferença na vida de muitas famílias por meio das ações, e é a esperança das mulheres. Por isso, o trabalho de enfrentamento vai seguir cada vez mais firme e atuante.
“A partir do momento que a mulher chega ao Chame, vai ter acolhimento. Aqui, mostramos que ela é especial e que existe vida após violência. E o Centro é aberto a todas as mulheres, de todas as idades; aqui é a casa de vocês, uma casa de proteção”, disse.
É possível recomeçar!
Vítima de violência doméstica, a cabeleireira Wal Rodrigues de Oliveira afirma que o Chame trouxe vida para ela por meio dos atendimentos quando mais precisava. Ela também conta que a unidade foi o único local que não a “olhou com julgamentos” e que se sentiu acolhida desde o primeiro momento.
“Eu me senti abraçada nesse local, que é totalmente preparado para receber todas as mulheres que sofreram, como eu. Me encontrei no Chame e pude entender que a cura existe para todas nós. Foi uma experiência muito especial para mim, poder ter participado, ‘fechado’ as terapias e concluído a terapia em grupo. Foi primordial, e é um presente para mim”, assegurou.
Emocionada, Wal reforçou que é fundamental que as mulheres vítimas de violência doméstica busquem por uma rede de apoio, acrescentando que é possível recomeçar a vida de uma forma feliz e em paz.
“Independentemente da dor que eu tive, do que aconteceu, dos traumas que houve dentro de mim, sempre vou dizer alto e bom som que o Chame é um lugar de esperança para as vítimas de violência. Ainda há chance de elas serem curadas, restauradas, se encontrarem e acharem um novo caminho.”
Atendimentos
Ao longo de 15 anos, o Chame atendeu mais de 13 mil pessoas, com serviços da equipe multidisciplinar, palestras, aulas de defesa pessoal e os demais trabalhos realizados na unidade.
Qualquer pessoa que deseja ser atendida ou participar dos projetos, pode entrar em contato pelo ZapChame, por meio do número (95) 98402-0502, informar os dados pessoais e aguardar ser chamada.
A unidade dispõe de salas e espaços modernos e qualificados para receberem o público. De acordo com a diretora do Chame, Hannah Monteiro, o local preza pelo bom atendimento e qualidade.
“Tudo isso para que elas sejam acolhidas e protegidas. É notável a importância do Chame e como se tornou referência ao longo desses 15 anos. Estar aqui com essa equipe maravilhosa, que se dedica sempre para atender essas mulheres, traz um sentimento de gratidão por poder, um pouquinho a cada dia, contribuir e fazer a diferença”, declarou.
Novidade neste ano
O grupo terapêutico Flor de Lótus foi uma das novidades deste ano na unidade do Chame. A primeira turma se iniciou em abril com 15 mulheres que puderam ter a experiência de contar suas histórias e mudar de vida.
Sob a responsabilidade da Secretaria Especial da Mulher, o projeto consiste em promover cerca de 14 encontros semanais para tratar de temas relacionados aos processos de personalidade, identidade e transtornos mentais, a exemplo de ansiedade e depressão, bem como da autoestima e vocação para o empreendedorismo.
A diretora da SEM, Glauci Gembro, ressaltou que foi possível notar mudanças significativas na vida das mulheres que participaram do grupo terapêutico.
“Foi bem nítido como elas chegaram e como saíram daquilo. Quando começam a se descobrir, percebem que são capazes e que é possível dar certo, ter uma vida funcional sem violência doméstica. Então é isso que o Chame tenta passar: que a mulher pode e é capaz de mudar a vida dela!”, frisou.
Canais de atendimento à mulher da ALE-RR
· Secretaria Especial da Mulher (SEM) em Boa Vista – Centro Humanitário de Apoio à Mulher – Chame e Centro Reflexivo Reconstruir: localizada na Avenida Santos Dumont, 1470, bairro Aparecida, com atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h;
· Núcleo da SEM em Rorainópolis: os moradores do Sul do Estado podem buscar apoio na Avenida Dra. Yandara, nº 3058, Centro. O serviço multidisciplinar funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h;
· Atendimento remoto pelo ZapChame: disponível no número (95) 98402-0502, atende 24 horas, inclusive nos fins de semana e feriados.
Texto: Bruna Cássia
Fotos: Alfredo Maia/ Jader Souza/ Marley Lima/ Nonato Sousa
SupCom ALE-RR