A última semana de julho é dedicada a alertar a população sobre o câncer de cabeça e pescoço. Segundo a previsão do Instituto Nacional do Câncer (Inca), devem surgir mais de 39,5 mil novos casos do tipo no Brasil, em 2024, “incluídos os cânceres de cavidade oral, tireoide e laringe”. Ainda conforme o Inca, esse número pode subir para cerca de 48.530, se somados os de pele melanoma, que também atingem essa região do corpo.
Criada pela Associação de Câncer de Boca e Garganta em 2015, com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), a campanha Julho Verde chama a atenção para a importância da prevenção e detecção precoce da doença. Em Roraima, 53 pacientes deram entrada para tratamento contra a doença na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), entre janeiro de 2023 e abril deste ano.
A Lei nº 1.502/2021, de autoria da deputada Angela Águida Portella (Progressistas), institui 27 de julho como o Dia Estadual de Combate e Prevenção ao Câncer de Cabeça e Pescoço e o “Julho Verde”, e dispõe sobre ações anuais relacionadas à conscientização da sociedade. Conforme a parlamentar, é necessário um trabalho de ampla informação para prevenir a doença que, quanto mais cedo for diagnosticada, mais chances há de cura.
“Diante dessa importância, foi que criei a lei. Ano passado, destinei R$ 150 mil em emendas parlamentares para o Serviço de Cabeça e Pescoço do setor de Fonoaudiologia da Unacon, sendo adquiridos aparelhos de laringe eletrônica, que é um dispositivo que auxilia na produção da voz após a retirada da laringe/pregas vocais no tratamento cirúrgico”, destacou.
A norma também frisa que as campanhas contarão com informações sobre danos, formas de prevenção, fatores de risco, causas de desenvolvimento e o que mais for relevante relacionado ao tratamento e combate aos tipos de câncer de cabeça e de pescoço, que podem abarcar a cavidade oral, faringe, laringe, onde se localizam as cordas vocais e a tireoide.
A médica cirurgiã Ragly Rossi explicou que os principais fatores de risco estão associados ao tabagismo e alcoolismo. No entanto, há também os fatores genéticos, como em alguns casos de câncer de tireoide. “Mas, na maioria das vezes, é o fator de risco que predomina. Por exemplo, o câncer de laringe, é muito mais frequente em homens acima dos 50 anos, que fumam e bebem”, ressaltou.
Ainda segundo Rossi, no Estado, o tipo mais comum é o câncer de pele, devido à localização geográfica próxima, seguido do de laringe e tireoide. “Essa campanha vem para reforçar, cada vez mais, essa busca do paciente pelos sintomas mais precoces”, disse.
Para se prevenir, a médica indica não se expor excessivamente ao sol em horários inadequados, não fazer sexo oral sem proteção, evitar o tabagismo e o alcoolismo, e ter cautela ao usar aparelhos radioativos.
“Os principais sinais de alerta são: nódulo no pescoço que não desaparece por mais de 30 dias, lesões na boca que não cicatrizam por mais de 15 dias, rouquidão, dificuldade ou dor para engolir, que podem estar ligados a um câncer de laringe, uma lesão de pele que sangra ou coça, A tudo isso a pessoa deve ficar alerta”, aconselhou.
A aposentada Anália Ródio teve câncer de pele há 11 anos. Segundo ela, começou com uma manchinha escamosa à qual ela não deu atenção. “Com o tempo, foi aumentando e eu procurei um dermatologista. Foi quando ele me falou que era câncer e que teriam que ser feitos procedimentos, como a biópsia. Apesar de ter feito, como eu sempre gostei de sol, continuei m expondo”, relembra.
Conforme ela, após a confirmação do diagnóstico, outras manchas apareceram durante esse tempo. Recentemente, a aposentada desenvolveu um nódulo no nariz, após se descuidar da proteção diária. Agora, ela deixa um alerta sobre a importância de realizar os procedimentos corretos.
“Percebi que a gente tem que ter os cuidados, usar muito protetor solar até dentro de casa, chapéu, porque a pele não aguenta. Na minha família, meu avô teve câncer de pele e tenho um irmão que está na mesma situação que a minha. Estou iniciando mais um tratamento para a retirada desse nódulo. Então, quem puder, evite o sol e fique atento a qualquer manchinha que aparecer, porque pode ser ou não. Mas tenha cuidado e procure o médico”, aconselhou.
Reabilitação
A fisioterapia oncológica tem papel fundamental na recuperação de pacientes que precisaram fazer algum tipo de cirurgia. Em casos de retirada de laringe, por exemplo, o fonoaudiólogo é o profissional responsável pela reabilitação. A especialista Fernanda Ross conta que, durante as sessões, são trabalhadas a deglutição correta dos alimentos e a comunicação, já que o paciente laringectomizado perde a capacidade da fala.
“Muitas vezes, o câncer pode atingir essa região da laringe ou mesmo em casos da tireoide em que é feita a remoção dela e existe uma cicatriz ali. Então trabalhamos uma nova voz, que será a esofágica ou através da laringe eletrônica, um equipamento que faz uma produção sonora de vibração na região do pescoço ou da bochecha, para que esses pacientes consigam ser reinseridos na sociedade e tragam uma comunicação mais efetiva. Além disso, existem cirurgias para que possa ser trazida uma nova voz, mas, hoje, o método que tem funcionado melhor é esse equipamento, que é disponibilizado pelo Estado”, enfatizou.
A fonoaudióloga destaca ainda que os cânceres de cabeça e de pescoço têm 50% de chances de ser evitados e 90% de cura, se detectados na fase inicial.
“A campanha traz as chaves para a prevenção do câncer, que são o estilo de vida e o diagnóstico precoce. A gente fala também sobre os fatores de risco, como o consumo do cigarro e bebidas alcoólicas associadas, o HPV [Papilomavírus humano], a exposição demasiada ao sol e consumo de alimentos ultraprocessados”, apontou.
Texto: Suzanne Oliveira
Fotos: Nonato Sousa | Arquivo Pessoal
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