Com a chegada do décimo mês do ano, inicia-se o movimento “Outubro Rosa”, uma campanha que busca sensibilizar, prevenir e combater o câncer de mama e de colo do útero, que acomete mulheres ao redor do mundo. Em Roraima, a Assembleia Legislativa (ALE-RR) atua no apoio às vítimas por meio de leis e ações, como a campanha ‘Mechas de Esperança’, iniciada em 2023 e que agora está em sua segunda edição.
A iniciativa, desenvolvida pelo Centro Humanitário de Apoio à Mulher (Chame), vinculado à Secretaria Especial da Mulher (SEM), em parceria com a Liga Roraimense de Combate ao Câncer (LRCC), consiste em arrecadar mechas de cabelo ao longo do ano para confeccionar perucas que serão doadas a mulheres em tratamento contra o câncer.
Após a confecção, os itens ficam disponíveis tanto na sede da Liga quanto no Chame. Além disso, em outubro, é realizada uma solenidade para apresentar os produtos prontos. Neste ano, já foram produzidas 50 perucas.
Conforme pontuou a diretora da SEM, Glauci Gembro, a campanha nasceu como forma de ajudar pessoas que não têm condições de comprar perucas de cabelo natural, cujos preços variam de R$ 200 a R$ 1.400.
“Muitas mulheres não têm condições de comprar uma peruca. Então, elas sabem que podem contar com o Chame, sem nenhum custo. Este trabalho é importante porque sabemos que, nesse período, a mulher está muito sensível e a peruca ajuda no processo de recuperação da autoestima”, complementou.
A preocupação com o bem-estar das pacientes é um fator significativo para o Poder Legislativo atuar em prol desse público, reforçou Glauci.
“Os fios de cabelo são fundamentais para a autoestima da mulher, então quando ela os perde, sente-se mais enfraquecida. Quando doamos a peruca, estamos devolvendo a dignidade dessas mulheres que se sentem mais fortes para enfrentar o processo de tratamento”, acrescentou.
A psicanalista do Chame, Janaína Nunes, observou que casos de violência doméstica podem agravar ainda mais o quadro das pacientes, e que esse tema é pouco abordado durante as campanhas de prevenção ao câncer.
“Por exemplo, uma mulher em um relacionamento abusivo pode ser impedida de acessar cuidados médicos, sofrer controle sobre seus recursos financeiros ou ser isolada de redes de apoio social, como amigos e familiares. Infelizmente, tudo isso impacta diretamente sua capacidade de seguir o tratamento de forma eficaz. Além disso, o impacto psicológico é profundo, pois o câncer, por si só, já impõe um grande fardo emocional – o medo do futuro, a incerteza sobre o tratamento e as mudanças no corpo geram ansiedade, depressão e estresse”, disse.
A especialista destacou que, levando em consideração todos esses fatores, a mulher pode acabar interrompendo o tratamento, o que piora sua condição de saúde e até mesmo ao abandono da luta contra a doença.
“É essencial que as campanhas de conscientização do Outubro Rosa abordem também essas questões. A luta contra o câncer não pode ser vista apenas sob o ponto de vista médico, mas também deve considerar os aspectos sociais e emocionais. Nós, como sociedade, precisamos garantir que essas mulheres em tratamento tenham não apenas acesso aos cuidados médicos adequados, mas também ao suporte emocional, psicológico e social necessário para superar essa doença em um ambiente seguro e acolhedor”, concluiu.
Qualquer pessoa interessada em ser atendida ou participar dos projetos pode entrar em contato pelo ZapChame, pelo número (95) 98402-0502, informar seus dados pessoais e aguardar o contato.
Casos em Roraima
Atualmente, 73 pacientes estão em tratamento contra o câncer de mama na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) em Roraima. Nos últimos dois anos, foram registrados 332 inícios de tratamento.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres em todo o mundo. Por isso, o especialista e diretor da Unacon-RR, Anderson Dalla Benetta, destacou a importância dos exames de rotina.
“O mais importante do Outubro Rosa é, de fato, conscientizar as mulheres sobre a realização da mamografia, porque, infelizmente, muitas ainda não têm essa consciência”, afirmou.
Como explicou o especialista, as mulheres devem fazer o exame a partir dos 40 anos. No entanto, se houver histórico da doença entre familiares próximos, o exame deve ser feito dez anos antes da idade em que o familiar for diagnosticado.
“Se uma tia, por exemplo, foi diagnosticada aos 40 anos, a mulher deve fazer o exame aos 30. Nesses casos, é recomendado o rastreamento mais precoce”.
Ele também alertou sobre o autoexame: embora seja importante, quando a mulher encontra nódulos, a doença pode já estar em estágio avançado.
“Duas coisas que a mulher precisa fazer religiosamente são a mamografia e o exame preventivo, porque, depois do câncer de mama, o de colo do útero é o que mais mata em Roraima. Por isso, é essencial manter essa rotina de exames”, frisou.
Em caso de diagnóstico, seja pela rede pública ou privada, a paciente pode ir diretamente à Unacon com os exames em mãos para iniciar o tratamento.
Uma das atuais pacientes é a dona de casa Maria Selma. Ela descobriu a doença há dois anos, após sentir um nódulo no seio. Depois de realizar alguns exames, confirmou o que temia. Mãe de três filhas e recém-separada, ela passou por momentos muito difíceis.
“Eu pensei que meus dias estavam contados e que logo eu partiria. Evitei contar para as pessoas pois há muito preconceito, essa ideia de que o câncer não tem cura, então eu não queria esse olhar de pena sobre mim”, confidenciou.
Após realizar quimio e radioterapia, além da mastectomia, Selma viu que era possível superar o problema e que essa era apenas mais uma fase em sua vida. Atualmente recuperada, ela passa por acompanhamento psicológico e se prepara para a reconstrução da mama, tudo pelo atendimento da Unacon.
“Não existe idade para nos cuidarmos, então, em qualquer situação ou dúvida, precisamos procurar ajuda. Não aceitar a doença pode ser prejudicial e agravar o caso, por isso é importante ter todos esses cuidados”, concluiu.
Como se prevenir
Mulheres que desejam realizar exames de rotina ou suspeitam estar doentes devem buscar atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de seus municípios ou procurar atendimento no Centro de Referência da Saúde da Mulher (CRSM) e Hospital de Amor (HA), em Boa Vista.
A unidade é voltada para prevenção do câncer de mama, do colo do útero e de pele, doenças com maior incidência no estado. Assim, realiza exames como mamografia, coleta de preventivo e triagem.
De acordo com o diretor do HA, Fabrício de Assis, a vinda do Hospital a Roraima teve objetivo focar na prevenção, especialmente devido ao alto índice do câncer na região.
“O Hospital de Amor chegou a Roraima em 2021, em boa hora, pois oferece uma opção para desafogar o sistema, tratando não apenas o câncer de mama e colo do útero, mas também o de pele”, destacou.
Para reforçar o atendimento, a unidade promoverá uma série de ações em alusão ao Outubro Rosa, além dos serviços rotineiros, como momentos de bem-estar, atendimento de salão de beleza e estética.
Leis da Assembleia Legislativa
A Assembleia Legislativa de Roraima também trabalha para assistir a esse público por meio de leis de amparo. A mais recente é a Lei Ordinária nº 1907/23, que dispõe sobre a implementação de Rastreamento e Teste Genético para Detecção Precoce de Câncer.
Outras normas, como a Lei nº 1891/23 que institui o programa de apoio à saúde da mulher (instrumento estadual de prevenção ao câncer de mama, com a realização do exame de mamografia no prazo máximo de 30 dias a partir da solicitação médica) e Lei nº 1863/23 que cria a Política Estadual de prevenção, detecção precoce e início de tratamento do câncer de mama, também garantem os direitos das mulheres com câncer no estado.
Além disso, a Lei nº 1289/18 determina procedimentos para a realização de cirurgia plástica reparadora da mama pela Rede Estadual de Saúde, nos casos de mutilação total ou parcial decorrente de utilização de técnica de tratamento de câncer.
Acesse todas as leis acerca do tema aqui.
Texto: Bruna Cássia
Fotos: Alfredo Maia/ Eduardo Andrade/ Nonato Sousa
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