“Foi uma época muito difícil nas nossas vidas. Após o fechamento do diagnóstico do mais novo, o médico aconselhou que eu fizesse com o mais velho, que sempre ia às consultas com a gente. Então iniciamos uma nova busca”, recordou Ana Paula Ramos, coordenadora da educação especial inclusiva em Iracema, que possui dois filhos, de quatro e oito anos, diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Para adquirir mais conhecimento, ela participou do primeiro dia da capacitação “Trabalho Pedagógico com Educandos com (TEA): Identificação, Avaliação e Intervenção”, promovido pelo Centro de Acolhimento ao Autista – Teamarr, da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), naquele município, nesta sexta-feira (7). Ao todo, 44 crianças autistas estão matriculadas na rede municipal de ensino.
Ana Paula declarou que atravessou um processo delicado durante o processo de investigação dos filhos, principalmente do mais novo, que tinha crises constantes, como choros em excesso, inquietação e falta de sono. A escassez de conhecimento suficiente para entender o que se passava com eles também foi um problema. A coordenadora chegou a se sentir incapaz de ajudá-los e a se ver no fundo do poço.
“Eu não tinha nenhuma informação sobre o TEA. Foi quando o médico deles me aconselhou a buscar ajuda. Eu precisava me cuidar para depois cuidar deles, pois estava impossibilitada. A confirmação do resultado foi algo que nunca esperei. Como não sabia por onde começar, fui buscar conhecimento”, desabafou.
Há quase um ano, Igor, de oito anos, é atendido pelo Teamarr. Indicado a Ana Paula pelo ex-gestor Edinaldo Coelho, de lá para cá ela observou melhorias em aspectos como alimentação e interação com outras crianças.
“Ele tem seletividade alimentar e faz o acompanhamento com a nutricionista. Não tenho como mensurar essa ajuda. Igor também faz o funcional que é algo que ele ama e veio para somar, além da questão da socialização. Creio que toda mãe se preocupa com isso. Ele se excluía muito, pois não se permitia brincar. Hoje, ainda tem um pouco, mas está mais sociável”, avaliou.
Oportunidade
A formação no município reuniu, principalmente, profissionais da educação e familiares de pessoas autistas. A pedagoga Jane Cavalcante Souza tem dois netos, de 5 e de 17 anos, ambos com suspeita de TEA. Ela conta que, além da diferença de idade, um é o oposto do outro.
“O mais velho é mais introvertido, fica isolado e tem dificuldade de interagir. Já o menor, é expansivo, muito carinhoso e brincalhão. No entanto, quando ele assiste a algum vídeo da internet ou escuta música, os repetem várias vezes. Até pergunto se ele não abusa, e ele diz que não”, disse.
Conforme ela, a observação dessa característica despertou um olhar diferenciado. Até então, a pedagoga não havia associado o comportamento ao transtorno. Ela elogiou a iniciativa do programa de ir até sua cidade, pois muitas famílias não possuem transporte para se deslocarem até a capital.
“Como ultimamente está sendo muito falada a questão do autismo, me deu aquele estalo. Agora, estou ‘correndo da sala para a cozinha’. Me lembro de uma palestra do Teamarr na qual um dos palestrantes se descobriu aos 46 anos. Então ainda dá tempo de investigarmos se eles têm ou não. Nunca é tarde. É preciso estarmos informados sobre a causa e é difícil para a gente participar em Boa Vista. então, uma oportunidade dessas, não podemos deixar passar”, declarou.
Expansão da informação
A formação foi dividida em duas partes. O encontro da manhã foi mediado pelas neuropsicólogas Rozianne Melville e Isis Maciel Madruga, que abordaram a parte teórica com foco sobre a condição dentro da escola, estratégias para uma educação inclusiva e afetiva, bem como mitos e verdades sobre o transtorno. A parte da tarde é dedicada à prática, por meio da equipe do Saber para Salvar, que ensinou técnicas de primeiros socorros com ênfase na Lei Lucas (13.722/2018).
Voltado para professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I, pedagogos, educadores físicos, pais, responsáveis, profissionais da saúde e interessados na temática, a formação ocorre no auditório do Centro de Referência em Assistência Social (Cras), das 9h às 12h e das 14h às 18h e segue até o sábado (8). O evento é uma parceria entre o Teamarr, a Prefeitura de Iracema e o Projeto Saber para Salvar.
“A gente recebe muitas demandas de professores que não estão preparados e não recebem capacitações para lidar com os alunos que têm autismo e é um público crescente. Então a preocupação da deputada Angela Águida Portella [PP] é disseminar informação, tanto no âmbito escolar quanto na área da saúde e familiar”, afirmou o diretor administrativo, Erbeson Silva.
Erbeson ressaltou a importância da continuidade das terapias que não devem ser restritas apenas ao Teamarr. “Ela deve ser trabalhada em casa e no ambiente escolar, que é o local onde passam boa parte do tempo. Tanto o profissional quanto a família poderão acolhê-los da melhor forma possível. Além disso, o professor poderá ter a capacidade de enxergar em uma criança características comuns do transtorno que os pais não veem ou não querem aceitar”, reforçou.
Programação 8 de março
9h às 12h – Habilidades Motoras no Contexto Escolar
14h às 18h – Comportamentos Inadequados: Compreensão, Prevenção e Manejo
Sobre o Teamarr
Vinculado ao Programa de Atendimento Comunitário da ALE, o Teamarr oferece atendimento a pessoas diagnosticadas com TEA, incluindo terapias, encaminhamentos e capacitações para familiares e profissionais das áreas de saúde e educação.
Os serviços gratuitos são personalizados conforme a necessidade de cada paciente e incluem acompanhamento com nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos, neuropsicólogos, educadores físicos, assistentes sociais e consultoria jurídica, e, ainda, presta suporte a adultos e pais de crianças autistas.
Os interessados podem procurar a sede do Teamarr, localizada na Avenida Santos Dumont, nº 1193, São Francisco. O local funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Mais informações pelo número (95) 999164-1475.
Texto: Suzanne Oliveira
Fotos: Marley Lima
SupCom ALE-RR