À primeira vista, a costureira venezuelana Josneida Del Valle, o servidor público Marcus Duarte e a artesã Suzana Santos parecem não ter nada em comum. No entanto, eles fazem parte da história da Escola do Legislativo (Escolegis) da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), que completa 21 anos nesta segunda-feira (24).
Há mais de duas décadas, a Escolegis oferece capacitações gratuitas e certificadas em diversas áreas do conhecimento, como administrativas, legislativas, de serviços, educacionais e de autodesenvolvimento, além de preparatórios para concursos públicos e vestibulares. A grade de cursos está em constante renovação para atender às novas demandas do mercado.
O resultado desse compromisso é que, nos últimos dois anos, a instituição bateu recordes de inscrições, casos de sucesso e cursos inéditos, transformando muitas vidas. Em 2023, foram ofertados 84 cursos presenciais e 137 na modalidade EaD (Educação a Distância), totalizando 101.621 alunos matriculados. Na primeira parcial de 2024, os números são ainda mais expressivos: 79 EaD com 69.369 alunos inscritos e mais de 30 presenciais com 4.521 alunos.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), destaca a evolução da escola, que originalmente foi criada para capacitar os servidores da ALE-RR, mas se consolidou como um polo democrático de conhecimento, impulsionada pela ampliação estratégica de sua plataforma digital, tornando-se acessível a um público ainda mais amplo e diverso.
“Hoje a Escolegis atende, em média, de forma presencial e virtual, mais de cem mil pessoas em Roraima, em outros estados e até mesmo em outros países. Quero expressar nossa satisfação, enquanto presidente do Poder Legislativo e deputado, por termos essa ferramenta tão importante à disposição não só dos nossos servidores públicos, das câmaras municipais e das prefeituras, mas especialmente da sociedade roraimense e, ainda mais, da nossa juventude”, comemora Sampaio.
Transição
De aprendiz para mestra, essa pode ser uma das formas de contar a história da artesã Suzana Santos com a Escolegis. Ela fez o curso de Bordado à Mão Livre, nos níveis básico, intermediário e avançado. Suas habilidades manuais chamaram a atenção da instituição, que a convidou para ministrar a primeira turma do curso de Amigurumi, uma técnica japonesa para criar pequenos bonecos feitos de crochê ou tricô.
“No final do curso, fizemos um projeto para confeccionar polvinhos para maternidade. Eles chamaram todos os alunos que sabiam fazer crochê. Acabaram descobrindo que eu fazia por causa dos polvinhos. Depois disso, fui convidada para ministrar aulas”, diz Santos, que começou a praticar infância em um projeto na escola de sua cidade natal, Pacaraima.
Mesmo já tendo experiência em projetos voluntários de artesanato, a transição de aluna para professora não foi fácil. “Tive um pouco de nervosismo quando recebi a ligação perguntando se eu poderia ministrar aulas. Eu queria, mas ao mesmo tempo estava receosa, achando que não conseguiria passar a técnica, porque muitos artesãos não se veem como professores. No primeiro dia, cheguei na sala e havia cinco alunos. Depois de meia hora, tinha vinte e cinco. Fiquei nervosa, mas foi uma experiência incrível e me trouxe confiança no meu próprio trabalho”, recorda.
Na avaliação de Suzana, as capacitações gratuitas para quem deseja trabalhar com artesanato são uma oportunidade única, pois a área conta com poucos especialistas no Estado e pode ser uma importante fonte de geração de renda para mulheres fora do mercado de trabalho.
“Quando comecei, não havia cursos desse tipo. Minhas especializações foram pagas. E em Roraima também havia pessoas capacitadas para dar aulas desse tipo. Então acho muito interessante verificar que a Escolegis também dá ênfase nos cursos da parte artesanal. É ótimo, porque você consegue ter uma renda extra ou até mesmo como sua fonte de renda. A maioria das alunas são mães que pararam suas vidas profissionais para cuidar das crianças”, acrescenta.
Com aulas teóricas e práticas, os cursos manuais exigem do aluno a confecção de, pelo menos, uma peça. É muito comum, segundo a professora, que os resultados sejam depois postados nas redes sociais, o que gera reconhecimento e até as primeiras encomendas.
“Em questão de uma ou duas semanas, as pessoas já conseguem ver o resultado do trabalho. E as pessoas se sentem realizadas porque é algo que você viu nascer do nada e tem algo concretizado ali na sua frente e podem ter retorno logo”, aponta Suzana.
Investimento no futuro
Uma das alunas que passaram pelo curso de Amigurumi é Josneida Dell Vale, de 41 anos. A venezuelana mudou-se para Roraima há cerca de 5 anos com o marido e o filho. Ela é figurinha carimbada nos cursos de artesanato da Escolegis. Em aproximadamente 1 ano, concluiu 19 capacitações, após conhecer o curso de Artesanato em Feltro por meio de uma cunhada.
“Eu vi a produção dela e perguntei: ‘Nossa, o que é isso? Será que também conseguiria?’ Ela me disse que sim, bastava fazer um curso na Escolegis”, recorda.
Moradora do bairro Centenário, na zona Oeste de Boa Vista, Josneida, que trabalha como costureira, sempre que possível se inscreve no mesmo curso nas duas unidades da Escolegis, nos bairros Liberdade e Santa Luzia, para acelerar o aprendizado e utiliza as técnicas aprendidas para agregar valor ao seu trabalho.
“Para mim, a única dificuldade é o transporte, porque moro longe e há obstáculos no caminho, eu tenho que ir e voltar de Uber. Moro bem no meio do caminho das duas escolas. Mas cada curso que eu faço, tem exclusividade. Já tenho uma peça [uma letra de feltro] que tem três cursos incorporados: bordado, bordado com pedraria e costura. Estou colocando em prática tudo que aprendi e ainda falta mais”, conta.
Muitas vezes, a dedicação causa espanto em seus familiares e colegas de turma. No entanto, ela não se desanima e persiste na busca por um futuro melhor, guiado pela educação.
“Meu marido diz que eu devo trabalhar e deixar de fazer cursos, mas eu sei que estou investindo no meu futuro. Uma colega chegou a perguntar-me, com um tom de ironia, se eu não fazia nada. Eu respondi que sim, eu chego aqui às oito horas, mas acordo às cinco da manhã, preparo o café, faço o almoço, coloco a roupa na máquina de lavar, deixo a casa limpa, já fiz um monte de coisas em casa antes de estar aqui. E a única coisa que ninguém pode tirar de você é o conhecimento, e aqui é de graça. Eu estou investindo na minha vida e no meu negócio. Sei que, em algum momento, vou colher os frutos”, conclui esperançosa.
Impacto social
Outro aluno assíduo nos cursos da Escolegis é o servidor público do Poder Legislativo Marcus Duarte, de 31 anos. Ele já fez 27 cursos e, atualmente, está inscrito em três (Rotinas de trabalho para secretariado; Desenvolvendo competências de liderança e Técnicas para currículo, entrevista e apresentação pessoal). Na escolha das modalidades, o servidor considera tanto sua área de atuação quanto o desejo de explorar novos conhecimentos.
“Escolho um relacionado à minha área de atuação e outro voltado para algo novo, para me manter atualizado. Já participei de cursos sobre processo legislativo e administração. Fora da minha área, fiz, por exemplo, o curso de Canva, que aborda mídia social, porque é sempre bom saber divulgar o próprio trabalho e alcançar mais pessoas”, compartilha Duarte.
Para o servidor, além de auxiliar aqueles que desejam aperfeiçoar suas habilidades profissionais ou os que buscam ingressar no mercado de trabalho, o impacto social e o alcance da instituição são ainda maiores devido ao foco nos cursos preparatórios para concursos e vestibulares.
“Por serem gratuitos, esses cursos são acessíveis a muitas pessoas que, muitas vezes, não teriam condições de pagar pela inscrição. O que mais me chama a atenção é o preparatório para concursos públicos. Muitos buscam essa oportunidade, mas não têm possibilidade de pagar por cursos particulares. O que a Escolegis oferece é um ponto de partida para iniciar esses estudos, algo que pode transformar suas vidas para sempre”, ressalta Marcus.
Texto: Suellen Gurgel
Fotos: Alfredo Maia
SupCom ALE-RR