Informar a população sobre as características que identificam o autismo em bebês e crianças, mostrar dados do aumento dessa população, a importância da detecção precoce e quais os atendimentos e serviços ofertados pelo Centro de Acolhimento ao Autista (Teamarr), da Assembleia Legislativa (ALE-RR), foram os objetivos de uma blitz educativa realizada em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF-RR) para celebrar o Dia Mundial do Orgulho Autista, nesta terça-feira (18).
Os motoristas que trafegaram pelo posto da PRF-RR, localizado no sentido Boa Vista / Mucajaí, foram convidados pelas equipes a ampliarem o leque de conhecimentos sobre a condição. O engenheiro agrônomo Márcio da Costa, sua esposa e o filho de três anos foram alguns dos convidados. Eles retornavam de uma visita a parentes em Mucajaí.
Costa destacou que foram informados pelos profissionais pontos interessantes, além de coisas simples do dia a dia às quais “nós, como cidadãos comuns, às vezes, não atentamos”.
“Após receber essas informações, a gente vai olhar com mais atenção para um filho de um sobrinho, de um amigo, por exemplo. Acho que nos auxiliou muito. Outro ponto muito importante das apresentações foi o testemunho de um policial rodoviário federal que trabalha aqui e se apresentou como uma pessoa autista, mas que desempenha todas as suas funções. Hoje, ele encontrou seu caminho e é bem-sucedido, por sinal. Isso me chamou a atenção e nos faz não olhar com preconceito, e sim pelo lado proativo, para que essas pessoas consigam se desenvolver e alcançar seus objetivos. Parabéns aos envolvidos”, avaliou o engenheiro.
O PRF mencionado por Márcio é o agente Patrick Leal, que relatou aos presentes as dificuldades e os traumas pelos quais passou durante a infância e a adolescência por falta de informação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) à época. Ele detalhou que foi diagnosticado em 2022, aos 41 anos, e somente depois percebeu que o que sentia não era “culpa” sua. Durante o depoimento, Leal destacou que a descoberta lhe tirou um “enorme peso das costas”.
“Me senti bem em ter comovido as pessoas, porque isso as motivará a observar melhor os seus familiares. Eu pensava que tudo o que acontecia ou eu fazia de errado, a culpa era minha, as atitudes ‘ignorantes’, meu isolamento social, até que descobri que não. Quando pequeno, eu não soube o que tinha porque não se falava em autismo há 40 anos. Fui um menino que teve uma infância difícil, era isolado, ninguém brincava comigo, sofria bullying, era o último a ser escolhido nas brincadeiras. Isso me gerou traumas, me revoltei comigo e com o mundo”, relembrou.
Ainda conforme o agente, uma de suas características é o hiperfoco, o que o ajudou a estudar, se formar e ser concursado.
“Deus me mostrou um caminho e eu comecei a estudar, fiz engenharia civil, o concurso da PRF e, hoje, continuo estudando, eu quero ser médico. Foi esse hiperfoco que ajudou a me libertar. Cada autista é diferente um do outro. Foi muito interessante conscientizar as pessoas, pois elas estão tendo uma visão diferente do espectro, estão entendendo que se ele [autista] for bem assistido e cuidado, poderá ser o que quiser, passar na multidão sem ser percebido e bem-sucedido”, concluiu Leal.
Pela segunda vez, o Teamarr participa de uma blitz educativa com a PRF. Os atendimentos no Teamarr ocorrem de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, na Avenida Santos Dumont, 1193, bairro São Francisco. O local atende crianças e adolescentes diagnosticados com TEA, realiza terapias, faz encaminhamentos e capacitação para familiares e profissionais da saúde.
Amiga do Autista
A conscientização sobre o autismo já faz parte do calendário da instituição. Em 2023, em parceria com a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (Fenaprf), o órgão lançou o projeto “PRF Amiga dos Autistas”. Conforme o agente Isaías Magalhães, coordenador da ação desta terça-feira, além de promover a igualdade de oportunidades, há um manual de atendimento policial a pessoas com TEA.
“Em alguns veículos pode haver crianças que se sintam mais sensibilizadas com a abordagem policial e até mesmo em algumas ocorrências em que o abordado é uma pessoa com autismo. Então a PRF vem instruindo seus policiais para uma abordagem mais técnica e humanizada a essas pessoas, para que as coisas não evoluam para uma situação mais grave. Isso é uma preocupação do órgão em prestar um atendimento de qualidade à população de forma inclusiva”, frisou.
Texto: Suzanne Oliveira
Fotos: Alfredo Maia
SupCom ALE-RR